terça-feira, 28 de agosto de 2007

O SENTIDO DO PASSADO

O SENTIDO DO PASSADO

HOBSBAWN, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Para Hobsbawn (1998, p.22), “todo ser humano tem consciência do passado (definido como o período imediatamente anterior aos eventos registrados na memória de um indivíduo) em virtude de viver com pessoas mais velhas”.

Segundo o autor, ao tornar-se membro de uma sociedade, o ser humano situa-se em relação ao seu passado, mesmo que apenas para rejeitá-lo.

O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. (HOBSBAWN, 1998, p.22)

O passado social formalizado torna-se mais rígido a partir do momento em que fixa o padrão para o presente. E, quando a mudança social acelera ou transforma a sociedade para além de um certo ponto, o passado deve cessar de ser o padrão do presente, e pode, no máximo, tornar-se modelo para o mesmo.

A crença de que o presente deva reproduzir o passado normalmente implica um ritmo positivamente lento de mudança histórica, pois, caso contrário, não seria nem pareceria realista, exceto à custo de imenso esforço social. Enquanto a mudança demográfica, tecnológica ou outras, for suficientemente gradual para ser absorvida, por assim dizer, por incrementos, pode ser absorvida no passado social formalizado na forma de uma história mitologizada e talvez ritualizada, por uma modificação tácita do sistema de crenças, pela distensão da estrutura normativa, ou por outras maneiras.

Não fosse assim, seria impossível ocorrer o significativo grau de mudança histórica cumulativa experimentado por toda sociedade documentada, sem destruir a força desse tipo de tradicionalismo normativo. Todavia, ele ainda dominava grande parte da sociedade rural do século XIX e mesmo do século XX, embora “o que sempre fizemos” deva ter sido claramente muito diferente, mesmo entre os camponeses búlgaros de 1850, do que havia sido em 1150. (HOBSBAWN, 1998, p.25)

Acrescenta o referido autor que a crença de que a “sociedade tradicional” seja estática e imutável é um mito da ciência social vulgar. Não obstante, até um certo ponto de mudança, ela pode permanecer “tradicional”: o molde do passado continua a modelar o presente, ou assim se imagina.

Dessa forma, torna-se possível encaixar dentro do contexto exposto acima as brincadeiras e brinquedos antigos como moldes do passado que até hoje encontram-se presente, citando-se como exemplo o biboquê, ou biloquê, brinquedo que consiste em uma bola de madeira com um orifício central e presa por uma corda numa espécie de suporte, onde através do movimento das mãos a bola deve se encaixar neste suporte.

Historicamente, há registros desse brinquedo em pinturas européias, indicando que ele era praticado nas cortes reais e aldeias do continente. Mas ele também esteve e ainda está presente em outras partes do mundo. No Japão, por exemplo, recebe o nome de kendama e na maioria dos países latino-americanos, de balero.

Ou seja, os brinquedos antigos, utilizados até os dias de hoje, destacam-se como “o sentido do passado como uma continuidade coletiva de experiência que mantém-se surpreendentemente importante (...)” (HOBSBAWN, 1998, p.32)

Segundo Hobsbawn (1998), o problema de se rejeitar o passado apenas surge quando a inovação é identificada tanto como inevitável quanto como socialmente desejável: quando representa progresso.

A inovação, tão obviamente útil e socialmente neutra que é aceita quase automaticamente por pessoas de algum modo familiarizadas com a mudança tecnológica, praticamente não suscita nenhum problema de legitimação. (...) Por outro lado, certas inovações requerem legitimação, e em períodos em que o passado deixa de fornecer precedentes às mesmas, surgem dificuldades muito sérias. (...) Paradoxalmente, o passado continua a ser a ferramenta analítica mais útil para lidar com a mudança constante, mas em uma nova forma. Ele se converte na descoberta da história como um processo de mudança direcional, de desenvolvimento ou evolução. (Hobsbawn, 1998, p.29-30)

4 comentários:

Anônimo disse...

Carol,
você conseguiu relatar muito bem o sentido desse texto. PARABÉNS!

Anônimo disse...

Oi Carol,me chamo Wagner, estudo comunicação e seu texto me ajudou a entender um pouco do passado social formalizado.OBRIGADOOOOO

Paulo Blank disse...

Carol vc salvou o meu dia, te amo, esse texto teu esta óimo guria, valeu mesmo

Anônimo disse...

De acordo com o trecho de Eric Hobsbawn, a relação entre os tempos históricos é dinâmica. Diante disso, explique qual o sentido do passado para a humanidade?